"A Europa vive tempos conturbados, reflecte a ressaca de um tempo economicamente atónito. As palavras dos políticos revelam uma completa falta de noção do real, para eles importa apenas o estado das mercados e o que ditam os juízos das Agências de rating e não, das grandes falhas sistémicas.
Quanto mais se observa e estuda os problemas da nossa época, mais se percebe que eles não podem ser entendidos isoladamente. Os problemas sistémicos, que estão interligados e assumem cada vez mais uma relação de interdependência não são auscultados pela ímpar solução política Europeia. Até ao momento não se encontraram soluções que provocassem ponte de ligação entre as verdadeiras diferenças socioeconómicas existentes e reivindicassem uma estável e visão de futuro para os Estados que se incluem e subscreveram a matriz Europeia. Entender a realidade sistémica significa, literalmente, colocá-la dentro de um contexto e estabelecer a natureza das suas relações.
É impreterível identificar de forma profunda as causas que despertaram a actual “crise” e perceber que as formalidades entre chefes de Estado e de Governos não se podem resumir a reuniões de números onde se somam as perdas e subtraem os ganhos especulativos provocados por falhas na transparência de informação económica de bancos, multinacionais e consequentemente se reflectem nos mercados de valores. A Europa estagnou na sua visão de unidade, a Europa congelou a sua estratégia de políticas comuns, a Europa abortou a sua regra de subsidiariedade. Passo a citar “O princípio da subsidiariedade é fundamental para o funcionamento da União Europeia (UE) e, mais precisamente, para a tomada de decisão a nível europeu. Permite, nomeadamente, determinar quando a UE é competente para legislar e contribui para que as decisões sejam tomadas o mais perto possível dos cidadãos. O princípio da subsidiariedade visa determinar o nível de intervenção mais pertinente nos domínios de competências partilhadas entre a UE e os Estados‑Membros. Pode ser uma acção a nível europeu, nacional ou local. Em todo o caso, a UE só pode intervir se estiver em condições de agir de forma mais eficaz do que os Estados-Membros.” Talvez por se incluir na Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) tem de se assumir em condições de cumprir este princípio: cumpra-o.
Em aprumada visão, de uma estratégia concertada, constata-se que o conseguido pela Comissão Europeia e agentes repreensores dos desequilíbrios economicamente detectados, ressalva-se a uma linha orientadora das dívidas dos países com maior défice. Não importa a forma como o vão conseguir levar avante e cumprir mas o conteúdo, a brusquidão e a força compulsiva que essas exigentes medidas vão provocar nos próximos anos. Escreveu e assinou-se o endividamento de valores consagradas pela ideia de Europa de outras eras, subscreveu-se a rotina do trabalhar honrado e pagador abusado, impôs-se que as diferenças sociais se extremem e ramifiquem em mais pobreza e menor apoio humano e logístico. Pretendia-se que a Europa fosse capaz de ajudar os países em incumprimento com medidas que aperfeiçoassem o seu sistema político e se desse provimento à celeridade dos processos jurídicos necessários, para o apurar dos verdadeiros responsáveis. Exigia-se que fossem discutidas medidas de maior equidade e justiça para os apoios sociais e que delas fizessem parte reformas estruturantes para o futuro. Exigia-se que se concretizasse uma uniforme alteração das regras de mercado e se capacitasse algo, tão nobre e ímpar como a Europa, com uma defesa potencialmente preventiva como uma Agência de rating Europeia e não, com a constante e assumida dependência das que existem actualmente ao sabor da vontade de especuladores, nocivas e tóxicas.
A Europa inscreve-se num círculo sem oportunidades, sem visão de futuro e parada no tempo a discutir a solução de problemas económicos que sabemos serem menores. Ou alguém já parou para pensar e perceber como é que a Alemanha e a França irão pagar a sua dívida externa? A única garantia motriz incapaz de o impedir será mesmo a percentagem de défice? Economicamente diz que o Estado gasta pouco mas globalmente reflecte, ainda assim, que a França e Alemanha são impotentes para travar o contágio que continuará nos próximos tempos, pois nem uma nem outra, vão conseguir reajustar créditos de ajuda aos restantes países em dificuldades. Ninguém tem interesse que a Grécia vá à falência apesar de a dívida grega ser de 160% do seu PIB. E por incrível que pareça, a verificar-se não será por causa do Euro mas pelos compromissos assumidos pela Comissão Europeia e os respectivos países em “crise” aquando, da venda de títulos de dívida em época de juros altos. É preciso relembrar que os especuladores querem fazer dinheiro fácil com esses juros que rondam os 20% a 10 anos e flutuam a cada abertura de mercado bolsista.
A Europa tem de se concentrar naquilo que é primordial e fundamental: bater com a porta a políticas de facilitismo outbound (exteriores). Como? Coragem e lucidez. Só haverá futuro para a Europa quando houver uma liderança Europeia interna coesa e forte. Ou todos fazem parte da decisão e convergem para uma matriz sólida e responsável ou, atrevo-me a dizer, a Europa tem os dias contados.