Há um ano pensei escrever parte do que aqui se encontra mas
julguei sensato evitar profetizar sobre a conjuntura nacional. Hoje, escrevo
metade do que teria sido escrito porque a outra, acabou por se tornar real.
Além de verosímil, entranhou-se estruturalmente no país e passou a ser o dia a
dia de milhares de pessoas. Agora, com o risco de ser insensato e ousado, escrevo
aquilo que poderá cada vez mais ser uma realidade.
Quando uma larga maioria pensava que a mudança de Governo
iria provocar corajosas reformas com benefício para o erário público,
consequentemente para o país, estávamos longe de descobrir, que o “mexerico”
político de derrubar e eleger governos, seria um jogo de pura cosmética da “diplomacia”
nacional. Após um ano de governação técnica e assessorado pelos iluminados gestores
de dívidas internacionais e em conjunto com a “falida” Comissão Europeia,
conseguiu-se em ano e meio, o insucesso de afundar nações como a Grécia e
Portugal. Como exigir credibilidade quando se impõem as medidas de choque do
laboratório Económico denominado Troika e em seguida, no respeito dos devidos
prazos, os resultados representam tecnicamente, um agravamento conjuntural e
uma falência a todos os níveis? Este país já não é o meu país. Eu não me
identifico com estes políticos nem com as suas políticas. Eles não se revêm
mais no povo nem nos seus valores. Este é o país dos ladrões que elegemos para
nos tirarem a democracia, é o país dos que nunca fizeram uma revolução intelectual
para pensarem por um país.
Eu temia este cenário mas sabia que era possível evitá-lo se
coragem política existisse na renegociação de políticas económicas comuns nos
Estados Europeus. É necessário reaver quotas de produção e de exportação para o
nosso mercado interno recuperar o saldo positivo da sua balança comercial. É
necessário empresas europeias deixarem de investir em outros mercados que não o
Europeu e deixarem de usufruir de incentivos fiscais como almofada. É
perentório, reconstruir uma Europa que parece ter saído de uma epidemia, guerra
ou catástrofe natural. Os países faliram: como? A esta pergunta nenhum
iluminado do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu dá resposta,
ninguém apresenta os rostos dos culpados ou das reformas políticas, jurídicas,
económicas e sociais que incontornavelmente tinham de ser feitas. Somos, todos
sem exceção, vítimas de erros que são exclusivamente humanos, exclusivamente de
políticas internas erradas, de estratégias europeias de crescimento erradas, de
contágios “inventados” entre a crise americana e a crise europeia. Somos
vítimas de um sistema fiscal que esgotou a hipótese de ter um único imposto
justo, aquilo que devia ser uma contribuição proporcional à riqueza adquirida,
é agora uma cobrança forçada à riqueza inexistente. Cobram-se impostos sobre
uma riqueza nacional inexistente. Os cidadãos pagam valores fiscais superiores
a um orçamento familiar digno para a educação, saúde, alimentação e cumprimento
dos seus encargos.
A nossa máquina fiscal não é pesada e injusta quando
comparada com a nossa máquina política que é inerte, rasca e cobarde. Inerte
porque aceita todas as imposições externas; rasca porque se há portugueses a
viver com ordenados inferiores ao ordenando mínimo, os políticos deviam, apenas
ter no momento de crise, ajudas de custo com limite até dois ordenados mínimos
(é uma honra ser herói e assumir o cargo de político neste contexto); cobarde
porque é inerte e rasca. Não temos políticos com coragem para assumir as
consequências das suas decisões e dos poderes que os seus cargos representam.
Acredito que o Euro, enquanto moeda e regulador monetário,
terá o seu fim. É uma epopeia governar um país, seja ele qual for, apenas e
através do sistema da “máquina fiscal”. Quando o desemprego aumenta e as
gerações futuras, intelectualmente e curricularmente mais bem formadas de
sempre, emigram à mesma velocidade que uma empresa abre falência, ficam
visíveis as evidências basilares que estruturam e asseguram, a viabilidade económica
de um país. É impossível haver uma só moeda para economias claramente desiguais
e além disso, a Europa representa a união de Estados com valores superiores às
suas identidades: é uma união plural de poderes consignados em constituições e
reforçada, em Tratados e Acordos de cooperação e desenvolvimento. É
indiscutível negar que até ao presente, aquilo que mais tem preocupado os
Estados Membros, é a viabilidade da moeda de um grupo de países em que, a cada
12 meses, há um que declara falência.
Há questões estruturais na Europa que terão de ser
repensadas e há necessidades internas, que urgem ser solucionadas. È premente
convocar os intelectuais e revitalizar a mente dos que governam, reeducar
necessidades, assumir compromissos socias com seriedade e sem rodeios. A
Europa, a cada dia que passa, torna-se cada vez mais um roteiro histórico de
civilizações fracassadas economicamente, socialmente, juridicamente,
politicamente e estruturalmente. È a demência dos números que acelera a
cegueira dos bancos e a ganância de homens de lucro especulativo.
Até quando é que os políticos vão silenciar a sua
conivência? Quanto tempo demora que uma voz de poder num cargo de poder, rebata
com punho e vontade, uma minoria agressiva e mordaz?
Revejo-me numa Europa de valores que existiu quando os
homens sabiam falar de um sentido estratégico e comum para um grupo de Estados.
Acredito na vontade de mudanças profundas mas acima de tudo, temo que o poder
regresse às mãos dos povos pela revolução violenta e drástica que a inércia dos
políticos europeus. Somos filhos de revoluções democráticas e conquistas
universais ou escravos do capital que se pede emprestado, para alimentar as
bocas dos que há anos se alimentam e nunca se saciam?
Vale a pena repensar a Europa, vale a pena repensar Portugal
se tudo for feito por quem de direito e sem repensar nas consequências dos que
ganham a vida à custa das falências que provocaram. Estamos falidos, estamos
endividados mas desconheço um boato ou notícia de que se tenham queimado
milhares de milhões de euros. Onde estará esse dinheiro quando já não se
encontra nos cofres dos Estados?
Escrever mais sobre este assunto seria assumir o risco de
especular: não o farei. Levanto questões e deixo reflexões. A solução não será
consensual mas para existir justiça, o consenso é prescindível. Este é o
momento de os culpados se sentarem no banco dos réus e não nos Bancos de
empréstimo para pagar dívidas que o povo não contraiu. O povo, o único
compromisso que assumiu, foi falseado e deturpado por homens que usaram o poder
para enriquecer e usufruir de privilégios que lhes possibilita a imunidade.
Observam a desgraça de milhões a partir da bancada de um parlamento e de uma
presidência, é triste a trincheira em que se escondem.
No final de contas feitas, para além das efetuadas pela
banca, há uma dívida política por cumprir com um país: cumpra-se!
Ao contrário de grande maioria dos políticos, o povo apenas
quer o que lhe pertence: o cumprimento dos direitos consignados na Constituição
e das leis jurídicas do seu país: cumpram-se!
Se temos políticos à altura dos cargos para que foram
eleitos, é este o momento de se mostrarem, é este o momento de darem a cara com
coragem e inverter um processo a que nem os “génios da Troika” conseguem pôr
cobro.
Até quando políticos inertes, rascos e cobardes?
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