O final da II Guerra Mundial, a criação da Organização das Nações Unidas, as dificuldades económicas por que passavam as potências coloniais, saídas de uma guerra desgastante e a política expansionista das duas superpotências conduziriam a um longo processo de descolonização, que se inicia primeiro na Ásia, Próximo e Médio Oriente e, ao longo da década de 60, no continente africano.
Mapa da descolonização
Os países saídos desta vaga descolonizadora, integrados no então chamado Terceiro Mundo, realizaram uma série de conferências, no sentido de lutarem contra a dominação colonialista que ainda se fazia sentir e promoverem a cooperação a todos os níveis, única forma de caminharem na senda do progresso. Em 1961, alguns destes países fundariam o Movimento dos Não Alinhados.
Portugal, como potência colonizadora que era, transformou as suas colónias em Províncias Ultramarinas, procurando estar de acordo com a Carta das Nações Unidas, que proibia a posse de territórios coloniais. Tal alteração era fundamental para que o país pudesse ser aceite na ONU, o que aconteceu em 1955.
Em 1961, durante o mês de Março, iniciava-se uma ofensiva liderada pela UPA contra colonos portugueses, antecedida por uma outra contra a prisão de Luanda, esta a 4 de Fevereiro, onde se encontravam detidos vários membros nacionalistas.
Ataque a fazenda em Angola, 1961
Esta ofensiva resultou em chacinas sobre as populações brancas e na destruição de muitas fazendas, criando uma situação de pânico generalizado entre a população de origem europeia.
Parte II - Chegada das primeiras tropas a Angola, 1961
Ao mesmo tempo que, por todo o Portugal, se realizavam manifestações contra os massacres cometidos pelas populações indígenas, bem como de fervor nacionalista, Salazar anunciava a sua resposta aos acontecimentos: «Para Angola, rapidamente e em força». Era o anúncio da guerra que Portugal estava disposto a travar para manter a soberania sobre as suas províncias no ultramar, continuando a recusar qualquer tipo de conversações com os movimentos de independência.
Se a guerra em Angola tinha início em 1961, não tardaria a chegar a outros territórios: em 1963 à Guiné e em 1964 a Moçambique.
Chegada a Lisboa das urnas de polícias e soldados mortos durante os confrontos de Luanda de Março de 1961
«Sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos."
António de Oliveira Salazar, Dezembro de 1961
Surdo às determinações da história, às condenações internacionais, aos apelos de conciliação dos nacionalistas africanos, às soluções negociadas, o ditador vive o combate mais obstinado da sua vida, lançando o país na sua segunda guerra do século XX. Para o povo português, a mobilização anual de dezenas de milhares de jovens é um esforço extraordinário, cinco vezes superior em percentagem ao dos americanos na guerra do Vietname.
Os massacres de 15 e 16 de Março em Angola causam um tremendo choque emocional: há uma guerra em África que vai ser necessário combater, já que o regime não apresenta nenhuma alternativa.
Em Angola, o número de efectivos rondará os 80 mil, em Moçambique irá ultrapassar os 50 mil e, na Guiné, chegará aos 30 mil. As despesas oficiais com esta guerra rondarão os 40 por cento do orçamento do Estado, embora os números não oficiais apontem mesmo para os 50%, em determinados anos.
Contra tudo e contra todos, mesmo com o progressivo isolamento internacional do país, Salazar mantém a opção firme de considerar o Ultramar parte integrante do território nacional, e assim, excluído de qualquer hipótese independentista. Na verdade, para o regime salazarista, a Nação é uma entidade pluricontinental e multirracial, pelo que, conceder a independência ao Ultramar, seria alienar uma parte do território português. Por outro lado, tomando tal decisão, seria esquecer a meritória acção civilizadora dos portugueses.
Partida de soldados portugueses para África
Embora o regime português se refira a terroristas, numa atitude de desprezo, os vários movimentos de libertação que combatem nas três frentes de guerra, Angola, Moçambique e Guiné, aperfeiçoam o seu armamento e as tácticas de combate. Com efeito, os países do Terceiro Mundo, os países do bloco comunista e os vizinhos africanos das três colónias portuguesas contribuem com ajuda financeira, armamento e abrigo seguro, de onde partem os principais ataques aos portugueses. O Zaire, a Zâmbia ou a Guiné-Conakri são exemplos de apoio aos nacionalistas.
A Portugal, restava-lhe o apoio incondicional dos países que praticavam a segregação racial, Rodésia e África do Sul, embora, por vezes, os Estados Unidos também colaborassem, de forma não oficial.
A guerra travada é uma guerra de guerrilha, levando as tropas portuguesas a procurar as possíveis bases dos guerrilheiros ou as aldeias que lhes fornecem apoio, destruindo-as. Estas acções pretendem causar um grande impacto psicológico nas populações mas, por vezes, de acordo com testemunhos publicados na imprensa internacional, soldados portugueses praticam massacres sobre as populações civis, o que em muito contribui para o descrédito do país e para o isolamento internacional a que é votado.
A vantagem que a Força Aérea constituía é posta em causa nos finais da década de 60, quando os movimentos de libertação passam a dispor de armas antiaéreas e de mísseis terra-ar Strela (estes a partir de 1973), responsáveis pelo abate de seis aviões no curto espaço de dois meses. A nossa aviação ficava reduzida aos serviços mínimos, o que agravou as dificuldades sentidas pelos soldados no terreno.
Para atenuar o quotidiano dos soldados, organizaram-se várias campanhas organizadas, sobretudo, pelo Movimento Nacional Feminino, como a de distribuição de cigarros, a rede de Madrinhas de Guerra, ou a confraternização com artistas do mundo do espectáculo. Estas acções pretendiam elevar o moral das tropas, algo desmoralizadas pelo impasse existente nas três frentes de combate.
Embora a Igreja esteja, desde o início, com a política colonial do regime, aumenta a afluência de fiéis a Fátima: agora, o peregrino implora à Senhora que livre os rapazes do perigo. O fervor religioso aumenta na medida da angústia, enquanto que os católicos progressistas, animados pela abertura do Concílio Vaticano II, assumem uma clara atitude contra a guerra, enfrentando a hierarquia da Igreja.
Peregrinação a Fátima
Num regime em que a censura impera, as notícias que chegam das frentes de combate são escassas. Raros são os momentos em que os portugueses contactam com essa realidade. Dois desses momentos eram as mensagens de Natal enviadas pelos soldados aos seus familiares e as cerimónias do 10 de Junho, momento de homenagem aos oficiais, sargentos e praças mortos em combate e de aproveitamento político, inflamando o fervor patriótico dos portugueses.
Saldo humano da Guerra Colonial:
Combatentes: cerca de 800 000
Mortos: cerca de 8 300
Sem comentários:
Enviar um comentário